domingo, 27 de novembro de 2011

CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DOS GRUPOS ETNOLINGUÍSTICOS DE ANGOLA

INTRODUÇÃO
Angola como sabemos, é um país africano imenso, que tem a extensão territorial de 1.246.700 Km2, rodeado pela República Democrática do Congo, pela Zâmbia a leste e pela Namíbia a sul, ocupada por cerca de uma centena de etnias e subetnias, de origem Bantu.
Segundo Herlânder Felizardo, por seu turno, tenta fazer uma abordagem sobre os Bantu. Para ele,
’o termo Bantu foi proposto na África do Sul, em 1856, pelo alemão Wilhehm Bleek, para se referir a uma ‘’família’’ de línguas que usavam uma raiz ntu para ‘’pessoa’’; muntu, singular, e bantu, plural na grande maioria’’.
A sociedade angolana é plural, composta por vários grupos culturais. A maior parte dos povos de Angola são falantes de língua Bantu, integrando um grupo que ocupa um terço do continente africano.
Os principais grupos etnolinguísticos entre os povos angolanos são os seguintes: 
1º OS OVIMBUNDUgrupo etnolinguístico Umbundu
Com mais de um terço da população (33%), sendo o maior de todos e o mais homogéneo de Angola, incluía as províncias de: Benguela, Huambo e Bié. Em finais do século XIX estavam organizados politicamente em 12 reinos, dos quais o do Bailundo, Bié, Chyaka, Galangue e Andulo eram os mais poderosos. O seu idioma é o Umbundu. As três funções mais importantes desempenhadas pelos reis consistiam em comunicar com o mundo espiritual, relacionar-se com os outros povos e administrar a justiça.
O rei era o sacerdote supremo do seu povo, uma vez que os seus antepassados eram as principais divindades comunais. Ele e os seus curandeiros ofereciam sacrifícios no altar régio com o objectivo de controlar os elementos e assegurar a fertilidade e o sucesso nas caçadas. Cada rei umbundu exercia a sua autoridade sobre uma série de sub-reinos, ou atumbu. O reino maior de todos, o Bailundo, era composto por cerca de 200 atumbu, governado cada atumbu, entre três a trezentas aldeias.
Os Ovimbundu eram temidos durante muito tempo pelos seus vizinhos por causa das suas incursões de intuitos escravocratas. Estes agricultores que por algum tempo se transformaram em caravaneiros de longo curso, raramente se sentiam tentados a rejeitar os moldes europeus e, por esse facto, foram frequentemente usados para colaborar com os portugueses.
2º OS KIMBUNDO 
Os M’bundu (Kimbundu), situados entre os rios Cuanza e Dande, com cerca de 26% da população, abrangendo Luanda, na costa, até à bacia do Cassange, na parte oriental do distrito de Malange. Faziam parte deste grupo Kimbundu vinte povos: Ambundu, Luanda, Luango, Ntemo, Puna, Dembo, Bangala, Holo, Cari, Chinje, Minungo, Bambeiro, Quibala, Haco, Sende, Ngola ou Jinga, Bondo, Songo, Quissama e Libolo. Exprimem-se em Kimbundu.
Como afirma Segundo Teresa Neto:
 ‘’ grupo Kimbundu constitui o grupo étnico, no centro do país, que mais assimilou os costumes coloniais portugueses’’; e, Lawrence W.Henderson corrobora afirmando também que ali foi o centro da assimilação porque na abordagem dele: ‘’os Kimbundu aprenderam o português ao serem assimilados, como foram eles quem produziu as primeiras obras das literaturas escritas angolana’’.
3º OS BACONGO
Com cerca de 13% da população, era o terceiro maior reino de Angola. Era composto por oito povos, relacionados entre sí, os quais ocupavam Cabinda e distrito do Zaire e Uíge.
Aquando à chegada dos portugueses em Abril de 1482, era o mais forte e estruturado nessa região da África Central. Mas ao fim de dois séculos de colaboração intensa com os portugueses, no comércio de escravos, o que de início constituiu um factor de enriquecimento das linhagens aristocráticas, teve gradualmente como consequência o enfraquecimento das estruturas sociopolíticas.
4º OS OVAMBUS – grupo etnolinguístico Ambo Criadores de gado e lavradores
Este grupo representava menos de 3% da população, possuíam a maioria do gado em Angola, sendo os principais fornecedores do planalto central. A sua economia devia classificar-se como agro-pastoril, uma vez que dependiam tanto da agricultura como da criação de gado, dando preferência em possuir uma grande manada, e que para eles o gado constituía uma parte importante da vida, embora envolvam mais na agricultura do que os seus vizinhos Herero.
Os Ambo ocupavam a fronteira entre Angola e a Namíbia. Em Angola aquela dominação aplicava-se ao grupo etnolinguístico que incluía os Cuanhama, Cuamata, Dombandola, Evale e Cafima.
Os Ambo não viviam em aldeias como os Umbundu. A população rural dividia-se em comunidades ou distritos, tendo cada comunidade um numero que oscilava entre as cem e as trezentas famílias, que ocupavam uma área de limites mal definidas, chamadas chilongo. Os Ambo não tinham um tipo centralizado de monarquia, mas todos os povos tinham o seu rei. Entre os Ambo de Angola, os reis dos Cuanhama desempenharam um papel preponderante.
5º OS NHYANECAS-HUMBI – grupo etnolinguístico Lunhaneca – Conservadores
Os Nhanekas-Humbe, situando-se geográfica e culturalmente entre os Umbundu e os Ambo, representavam cerca de 5% da população angolana. Dispersaram-se pelos distritos de Huíla e Cunene, desde as vilas de Chongoroi e Quilengues, a norte, até à fronteira da Namíbia, a sul. Este grupo é composto por dez povos. Os Muílas, os Gambos, os Humbes, os Donguenas, os Hingas, Cuancuas, Handa de Quipungos, Quilengues-Humbes e Quilengues-Musos.
O grupo Nhaneka-Humbe era o mais conservador de todos os povos de Angola, são acima de tudo pastores, deixando para as mulheres todas as atividades agrícolas que praticam. Eles tinham sido menos influenciados do que os outros pela cultura europeia, apesar de um número relativamente grande de colonos portugueses ter invadido o seu território em meados do século XIX. Este conservadorismo que resistiu à urbanização fez com que Sá da Bandeira/Lubango, situado em pleno território Nhaneka-Humbe, fosse a única cidade em Angola a ter uma maioria branca.
6º OS HEREROS grupo etnolinguístico Tcherero - Verdadeiros pastores
Os Hereros podia disputar com os Nhaneka-Humbe a classificação de «o mais conservador», mas como os povos Herero eram pouco numerosos, o seu lugar na cena angolana revestia-se de menor importância.  Os poucos milhares de Dimbas, Chimbas, Chavicuas, Hacavonas, Cuvales, Dombes, Cuanhocas e Guendelengos ocupavam o território situado nos distritos de Benguela, Moçamedes e Huíla, chegando ao interior a partir do deserto de Namibe.
Do ponto de vista económico, os Herero eram, entre todos os angolanos, os que mais se dedicavam à criação de gado. Os grupos vizinhos, os Ambo e os Nhaneka-Humbe, davam mais importância à sua riqueza pastoril do que à agrícola, tudo porque o grande valor que davam ao gado não era apenas fundamental para a economia mas também para o seu sistema cultutal de valores, pois repudiam quaisquer atividades sedentárias, não descartando a sua longa tradição agrícola. Em 1958, o membro mais velho Herero lembrava-se ainda do tempo antes da agricultura ter entrado na economia do seu povo.
7º OS LUNDA-TCHOKWE grupo etnolinguístico Tutchokwe -Caçadores por excelência
Conhecidos pelo seu talento artístico, estes povos têm-se deslocado para Angola a partir da região do Congo-Catanga ao longo dos últimos 150 anos, sobretudo como caçadores e comerciantes. Os povos do grupo Lunda-Chokwe incluíam os Lunda, Lunda-lua-Chindes, Lunda-Ndembo, Mataba, Cacongo, Mai, e Chokwe. Na denominação composta deste grupo, «lunda» refere-se ao grande império da África Central, que no século XVIII enviou chefes políticos de Katanga/Shaba, no Zaire, para as zonas mais populosas do Leste de Angola. Entre os povos que os chefes lunda foram encontrar, estavam os Chokwe, que viviam para lá da religião banhada pelos rios Kasai, Cuango, Zambeze e Cuanza, no Centro-Leste de Angola.
A organização sociopolítica dos Chokwe assentava em doze clãs matrilineares, governados por chefes de linhagens menores. Os Lundas impuseram-se como dirigentes políticos aos governantes locais e fundaram reinos, segundo o modelo que vigorava no império lunda.
Em finais do século XIX, os Chokwe eram o povo mais agressivo e mais independente em toda a Angola, mostrando sê-lo ao século passado, no terem começado a expandir-se em direcção ao Centro de Angola. O poder económico reforçava ainda mais a sua não dependência, visto que o marfim, a cera e a borracha, que constituíam os produtos principais das trocas comerciais em finais do século XIX, se encontravam essencialmente na parte leste de Angola em áreas controladas pelos Chokwe.
Eram também bons caçadores, tendo acumulado armas de fogo. Por trocas que efectuavam ou por ataques que perpetravam, adquiriam muitas mulheres e escravas, que iam aumentar em grande número a população Chokwe, não só pelo facto de serem muitos, mas por estarem em idade de conceber.
Os Chokwe, para além de serem conhecidos como caçadores-guerreiros orgulhosos e independentes, eram ainda famosos como artistas. Os seus escultores executavam em madeira elegantes figuras humanas e máscaras para os rituais. Uma outra parte em que os Chokwe foram verdadeiros mestres era a pintura mural.
8º OS GANGUELAS grupo etnolinguístico Tchinganguela Pescadores
Os Ganguelas representavam cerca de 7% dos angolanos: os Luimbe, Luena, Lovale, Lutchazi, Bunda, Ganguela, Ambuela, Ambuila-Mambumba, Econjeiro, Ngonielo, Nhemba e Avico. O antropólogo americamo, George Murdock, inclui a maioria destes povos num agrupamento Lunda, juntamente com os Chokwe.
O grupo Ganguela era o mais heterogéneo de Angola. Os anteriores grupos etnolinguísticos descritos, que representavam mais de 95% da população em finais do século XIX, eram todos bantos. Os restantes grupos eram os Khoisans, que eram representantes dos povos que viviam em Angola antes da invasão dos Bantos, depois os portugueses e os mestiços.
9º O GRUPO KHOISAN – Os nativos de Angola
Os Bosquímanos Kung, a sul de Angola, chamavam-se a sí próprios o «povo inofensivo», ou seja, zhu twa si. Aos não bosquímanes, eles chamavam zosi, o que quer dizer «animais sem casco». Segundo eles, os não bosquímanos eram maus e perigosos como as hienas e os leões. Quando os Bantos, ou os «animais sem casco», entraram em Angola, quatro a dez séculos atrás, foram encontrar populações que se dedicavam à caça e que eram de tal modo inofensivas que depressa se deixaram dominar.
Khoisan é uma palavra composta a partir de khoikhoi, que era o nome hotentote que eles se davam a sí próprios, e san, que era o nome que atribuíam aos Bosquímanos.
Em finais do século XIX, alguns milhares de bosquímanos dispersaram-se pela parte sul de Angola e pelo deserto da Calaári, em bandos constituídos por famílias pouco numerosas. Os Bosquímanos, de constituição frágil e de pele amarelada, viviam uma vida nómada sem se fixarem permanentemente.
Por sua vez, Boubacar N. Keita, aborda que:
‘’os Khoisans, pequenos pela estatura – 155 centímetros para os homens e 145 para as mulheres, ter-se-iam formado como entidade particular durante o Paleolítico Superior…as suas características antropológicas, têm suscitado o mais vivo interesse e provocado apaixonante debates entre vários especialistas ’’.
A organização social dos Bosquímanos, assentava simplesmente na família nuclear, a qual, muito raramente, ia para além das vinte pessoas, podendo ser composta por um homem já velho, pela mulher, as suas filhas, genros e netos e talvez ainda por um ou dois filhos solteiros.
OS TRÊS PRINCIPAS GRUPOS ETNOLINGUÍSTICOS DE ANGOLA E SUAS RESISTÊNCIAS CONTRA O MOVIMENTO COLONIAL PORTUGUÊS
Dentre estes grupos citados acima, adianta-nos caracterizar neste artigo, os três principais grupos etnolinguísticos de Angola, que segundo Edmundo Rocha, a sua população era, em 1960, a seguinte:
§  Ovimbundu (Umbundu) .........................     1 750 000
§  M’Bundu (Kimbundu) …………………..      1 050 000
§  Bakongo (Kikongo) ……………………..         620 000
Os três grandes grupos étnicos são por ordem decrescente da população são os Ovimbundu, os M’Bundu e os Bakongo, que representam cerca de 75% da população e ocupam as regiões economicamente mais importantes, o litoral, o litoral norte e centro e o planalto central. Os dois primeiros grupos étnicos, são essencialmente angolanos, ao passo que os Bakongo faziam parte do grande reino do Congo, radicado historicamente numa área que abrange o ex-Congo Francês, o ex-Congo Belga e o norte de Angola. Entre os três grandes grupos étnicos angolanos, foram os M´bundu/Kimbundu que tiveram os contactos mais prolongados, contínuos e profundos com os portugueses. Com efeito, após a fundação de S.Paulo de Luanda, no dia 25 de Janeiro de 1575, os portugueses progrediram para o interior, encontrando uma grande resistência por parte do povo M’bundu.
Só um século depois, em 1671, conseguiram estabelecer-se em Pungo Andongo, e séculos depois (1870), em Cassange. Entretanto, empurrados para o interior, os M’bundu criam os reinos de Matamba e Cassange. É no decurso desta progressão que aparece a figura mítica da rainha N’zinga M’Bandi Ya-Ngola Kia Samba (1584-1663).
A estrutura politica e social dos grandes reinos M’bundu do interior, manter-se-à homogénea até ao século XX, sendo pouco «aportuguesados», referindo-se principalmente aos reinos da Matamba e de Kassanji; ao passo que as populações M’bundu do litoral, submetidas desde cedo ao domínio colonial, são profundamente dispersas, desestruturadas, cristianizadas e «portuguesadas».
Os Ovimbundu ou Umbundu (Galengue, Huambo, Bailundo, Bié), povos numerosos e empreendedores, estabelecem a ligação entre o litoral e os povos longínquos, Lunda – Quiocos e Ganguelas, com quem comerciam e onde se vão aprovisionar de escravos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
§  FELIZARDO, Herlânder (2005) ''ANGOLA: Campo de Missões Cristãs''.
§   HENDERSON, Lawrence W. (1990) ''A Igreja em Angola'', Editorial Além-Mar, Lisboa.
§  ROCHA, Edmundo (2009) ''ANGOLA – Contribuição ao Estudo da Génese do Nacionalismo Moderno Angolano, (período de 1950-1964)'', Editora DINALIVRO, Lisboa.
§  MEDINA, Maria do Carmo (2005) ''ANGOLA – Processos Políticos da Luta pela Independência'', Edições Almeida, Coimbra.
§  NETO, Teresa da Silva (2010) ''História da Educação e Cultura de ANGOLA: Grupos Nativos, Colonização e Independência'', Garrido Artes Gráficas – ALPIARÇA.
§  KEITA, Boubakar N. (2009) ''História da África Negra'', Textos Editores, Luanda.
§  WHEELER, Douglas; PÉLISSIER, René (2011) ‘’História de Angola’’, 1ªEdição, Tinta de China Edições, Lisboa.
Leia também:
§  ANGOLA: Trilhos para o Desenvolvimento – F.Zau

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

CONSEQUÊNCIAS DO ASSIMILACIONISMO PORTUGUÊS EM ANGOLA

Resumo
Várias vezes tenho pensado sobre quando se fala da colonização portuguesa em Angola, senão mesmo do processo de assimilação evidenciada por Portugal, e sobre isto reflicto o seguinte:
Os portugueses concebiam o processo de assimilação como ocorrendo em três fases:
1ª Fase: A destruição das sociedades tradicionais;
2ª Fase: A inculcação da cultura portuguesa;
3ªFase: A integração dos africanos «destribalizados» e «luzitanizados» na sociedade portuguesa.
§  Estes era precisamente o caminho seguido no Brasil e toda a gente sabia como os portugueses tinham assimilado com êxito os negros do Brasil. No entanto, a economia, a ecologia, a demografia racial e a longa história da escravatura do Brasil, estavam longe das realidades angolanas. Os africanos desenraizados trazidos para o Brasil, ficaram impossibilitados de se valer das suas instituições, padrões sociais ou valores tradicionais para suster as suas identidades culturais perante as exigências de adoptar a linguagem, a cosmologia, o vestuário, a alimentação e os deuses da classe dominante.
§  Embora os negros se não encontrassem incorporados em todos os níveis da sociedade brasileira, estavam quase totalmente assimilados e, por conseguinte, eram culturalmente mais brasileiros do que kimbundu, kikongo ou yoruba.
§  Em Angola, os portugueses não conseguiram sequer concretizar a primeira fase do processo de assimilação.
Na República de Angola coexistem e interagem vários grupos etnolinguísticos com diferentes línguas maternas africanas, para além do Português que é, simultaneamente e por razões de Estado, a língua oficial. As referidas línguas maternas africanas servem de pólo aglutinador e dinamizador de cada uma das culturas específicas a que servem de suporte e não podem, nem devem continuar a ser excluídas, de entre os pré-requisitos indispensáveis ao desenvolvimento do País. Com efeito, pese embora a acção de sentido contrário e altamente meritória conduzida pelas diferentes confissões religiosas que operam em Angola, a política assimilacionista perpetrada pelo colonialismo português, ignorou os saberes dos povos de Angola e inviabilizou ou, pelo menos, dificultou a integração de novos saberes e a sua repercussão no desenvolvimento do País.

A partilha de África, de acordo com os interesses dos diferentes colonizadores e a consequente artificialidade das fronteiras entre Estados, vieram dificultar e retardar ainda mais a acção do poder instituído, até porque este, legitimamente empenhado em oferecer igualdade de oportunidades aos cidadãos, caiu na tentação de considerar que todos os angolanos têm à partida os mesmos conhecimentos, quer no plano qualitativo, quer no quantitativo, no que se refere ao domínio da única língua de escolaridade – o Português.
Dentre os vários grupos etnolinguísticos que compõe o mosaico cultural de Angola, os que mais assimilaram a cultura europeia eram os Kimbundu que segundo, Lawrence W. Henderson:
‘’Os Kimbundu aprenderam não só o português ao serem assimilados, como foram eles quem produziu as primeiras obras da literatura escrita angolana.‘

Todos os povos de Angola possuíam uma riquíssima literatura de transmissão oral – contos populares, provérbios, poesias e canções – mas foi entre os africanos fixados, principalmente em Luanda, nos finais do século XIX, que surgiu a literatura escrita.

ESSÊNCIA DO ASSIMILASSIONISMO DESTINADO PARA OS ‘’INDÍGENAS’’ DE ANGOLA
É relevante em primeiro lugar compreender o termo ‘’indígena’’ que provém do latim, que significa «o que é natural do lugar ou país que habita; aborígene; autóctone (seja homem animal ou planta).
Este termo no contexto do colonialismo, esteve também relacionado com as expressões «clero indígena», «clero nativo» ou ainda «clero autóctone». Por sua vez, estes termos aplicados no domínio da teologia, significam «a necessidade interna de radicar, em todos os espaços sócio-culturais, a estrutura hierárquica da igreja, ou seja, a necessidade de recrutar geralmente no próprio meio, os quadros que presidem às comunidades locais e de fazê-los entrar ao nível superior na intercomunicação dos quadros estruturais da Igreja universal».
Porém tais expressões, e consequentemente o termo indígena, na perspectiva histórica, vieram «a constituir problemas após os contactos de culturas encetados na época dos descobrimentos», isto, porque a tarefa de recrutar indígenas consubstanciou-se em atitudes que, por vezes, chocaram com a cultura tradicional; daí, a multiplicidade e a complexidade de factores de recrutamento e preparação de quadros ‘’indígenas’’.
Para os ideólogos do sistema colonialista e seus apoiantes, o entendimento de indígena desprovido de preconceitos rácicos e etnocentristas é de pôr de parte. Para os colonialistas portugueses da época, como Serra Frazão, o termo serve para designar, «o preto boçal», atribuindo a ele categorias de ‘’inferior’’ ‘’atrasado’’ ou ‘’primitivo’’, são o exemplo da forma como era caracterizado o nativo indígena africano de Angola, Guiné e Moçambique.
No meio colonial, era reconhecido que a instrução poderia constituir uma arma ofensiva e defensiva, consoante o sentido e a direcção que se lhe desse. As preocupações coloniais com a forma como a escola devia contribuir para a exploração das riquezas das colónias, visando a obtenção de lucros imediatos, por um lado, a moralização da opinião pública (nacional e internacional), para garantir a continuação sem sobressaltos da ‘’grande missão’’ de evangelização dos ‘’indígenas’’ (em nome de Deus), da nacionalização e ocupação efectiva das colónias (em nome da Pátria), e de assimilação das suas gentes (em nome da Civilização), por um lado, constituíram as bases orientadoras das ideólogos e políticos portugueses pró-colonais.

Deste modo, toda a política colonial de ensino destinada aos nativos indígenas em Angola, desde cedo, procurou subalternizá-los por intermédio da inculcação de temas afectos à trilogia Deus-Pátria-Civilização.
Esta politica de ensino para ‘’indígenas’’, executada predominantemente por missionários, só seria garantida com o alcance daqueles três elementos da trilogia ultramarina de ensino, tacitamente presentes nas determinações oficiais, tais como aconteceu a trilogia metropolitana, Deus-Pátria-Família. A satisfação das preocupações de ordem religiosa, por meio da expansão da fé (simbolizando Deus), a satisfação das preocupações inerentes à política da nacionalização dos ‘’indígenas’’, assente na exaltação e inculcação de valores e costumes portugueses, permitindo assim a expansão e controlo do império (simbolizando a grandiosa Pátria), e, por último, a sua assimilação pelo trabalho (simbolizando o conceito português de Civilização nas áreas sob regime de indigenato). 
Em nossa opinião, o processo de assimilação com todos os requisitos pela metrópole preconizada, não conseguiu almejar os seus objectivos últimos porque para além da resistência, os africanos em geral e em particular os angolanos, estavam fortemente enraizados nos seus hábitos, nos costumes, no seu modus vivendi, enfim, na sua cultura de modo que Portugal, não se viu satisfeita na sua plenitude pelo facto de que o assimilicionismo acarretaria elevados dispêndios por parte da metrópole.
Como diz Edmundo Rocha:
’Apesar de uma presença de cinco séculos, o colonialismo português não conseguiu desestruturar e «portugalizar» as diversas etnias angolanas. No confronto, durante séculos, entre duas civilizações com comportamentos e filosofias diametralmente opostas, vastos sectores da sociedade angolana conseguiram furtar-se, durante centenas de anos, ao processo de assimilação cultural e social.’’

A tomada de consciência das diferentes etnias africanas face ao ocupante português, foi variável nas formas e nas atitudes. A grande maioria, sobretudo os que viviam nos reinos e chefaturas do interior de Angola, opôs-se violentamente à ocupação, durante séculos. Outros povos angolanos procuravam na emigração nos países vizinhos as vias promocionais para as melhores condições de vida. A maioria foi obrigada a submeter-se e a adaptar-se a viver diariamente com o regime colonial.

Mas foi, contudo, esta minoria «assimilada» que primeiro tomou consciência da sua condição de «submetida» de uma potência colonial sem capacidade financeira, sem meios materiais e demográficos e sem desígnios morais para «civilizar» e poder elevar o nível cultural e económico dos milhões de angolanos.
É preciso lembrar que, a partir da década de 1940, Portugal acelerou sua política de colonização na África, estimulando a ida de portugueses para lá fixarem residência e trabalharem. Segundo algumas fontes, cerca de 300.000 portugueses estariam vivendo em Angola em 1970, e em torno de 150.000 em Moçambique.
Ainda na década de 1960, perante uma nova conjuntura externa marcada pelas independências políticas das antigas colónias inglesas e francesas na Ásia e na África e pelas crescentes pressões das Nações Unidas contra a permanência de regimes coloniais, e também diante das atribulações políticas causadas pelas primeiras sublevações armadas em Angola, a coesão interna do regime salazarista começa a se desfazer em razão do crescente descontentamento, mesmo no interior do governo, relativo tanto à delicada questão do assimilacionismo nas colónias como ao intransigente centralismo até então vigente.

O QUE MUDOU DEPOIS DE 1960?
No inicio dos anos 60, período em que estavam em processo de esfacelamento os decadentes impérios coloniais britânico e francês, é também lembrado como o marco inicial das primeiras revoltas de grupos armados, em cenário africano, contra o colonialismo português.
A África foi, então, palco de uma série de independências políticas que havia sido desencadeada desde a emancipação de Gana, em Março 1957, e da Guiné-Conacry, em Setembro do ano seguinte. Mas foi somente em meados da década de 70 que as então denominadas ‘’províncias ultramarinas’’ portuguesas romperam com a metrópole e com um diferencial em relação a outros países do continente: sem se acomodarem em soluções neocoloniais.

No caso de Angola, arrastaram-se quatorze anos de luta armada, desde o início de 1961 até meados de 1975, período de sua independência e da quase completa derrocada do Império Colonial Português.
Nos anos 60, os nacionalistas angolanos, com a intensificação de sua militância, que já vinha se formalizando desde a década anterior, não tiveram dificuldades em obter o apoio explícito de governos africanos recém-constituídos. Assim, o primeiro dos movimentos de libertação nacional formado naquela colónia, a União dos Povos Angolanos (UPA), pôde contar, em nome da causa pan-africanista e por razões geo-estratégicas, com o financiamento económico e o auxílio militar-logístico de países como o Zaire, Gana, Guiné-Conacry e Egipto e, fora do continente, dos Estados Unidos cuja política externa havia sido atraída pela retórica anticomunista de Holden Roberto, um dos fundadores e o principal líder da UPA e depois da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).
Outro importante movimento nacionalista, rival da UPA, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), de orientação ideológica marxista, teria também seus aliados externos, entre eles o Congo-Brazzaville, Zâmbia, a União Soviética e, em especial, Cuba. Internamente, sobretudo em Luanda e no meio rural das províncias ao norte, surgiam os primeiros grupos de guerrilheiros que iriam entrar em confronto com os oficiais em quarentena nos postos administrativos, nos estabelecimentos militares e nas prisões sob os quais flamulava a bandeira portuguesa.
Esse é o início das chamadas Guerras de Libertação/Guerras de Independência/Guerras Coloniais, primeiramente em Angola, e depois alastradas para outras colónias.

RELEVÂNCIA DAS REVOLTAS ANTI-COLONIALISTA
Entrementes, em Angola a repressão policial e militar a alguma revolta civil passaria então a ser executada com desproporcional violência, como é o exemplo dos plantadores de algodão na Baixa do Cassanje (Malanje), quando a retaliação das forças armadas portuguesas, usando napalm, matou cerca de sete mil camponeses que se manifestavam pacificamente contra suas condições de trabalho. Em Luanda, em 4 de Fevereiro de 1961, a acção armada de nacionalistas angolanos foi respondida com uma brutal repressão nas periferias os musseques da cidade, o que provocou centenas de mortos.

Só nesses primeiros meses de guerra, teriam morrido, segundo fontes nacionalistas, 70.000 africanos do Norte de Angola, e cerca de dois mil portugueses. Já o número de refugiados para o Congo, ao Norte, chegou a ser contabilizado em 150.000. A própria competição entre comités de solidariedade dos movimentos nacionalistas, formalmente criados alguns anos antes, para a captação desses refugiados na fronteira engendrou conflitos entre militares da União das Populações de Angola (UPA), formado naquela mesma região, e do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), formado por luandenses e presente nas regiões do Norte e no Congo desde fins de 1961.
Foi, todavia, a UPA, o primeiro movimento a levantar em armas contra o colonialismo português, quando, em meados de Março de 1961, na cidade congolesa de Ndjiji, são recrutados os primeiros combatentes para acções de guerrilha na fronteira. O MPLA passará para a luta armada pouco mais tarde, em Novembro do mesmo ano, quando sua primeira operação militar, chefiada pelo Comandante Tomás Ferreira, é aniquilada pelas forças da UPA. Com ideologias e propostas nacionalistas bastante diversas, as duas frentes de libertação iriam se chocar ao longo dos anos, passando o MPLA somente a ter preponderância como alternativa programática de combate ao colonialismo e como proposta de formação de um novo país, apenas após 1965.

Referências Bibliográficas
§  BENDER, Gerald J. (2004) ''Angola sob Domínio Português - Mito e Realidade'', Edições Nzila, Luanda.
§  CORREIA, Pezarat (1991) ''Descolonização de Angola: a Jóia do Império Português'',Luanda: Editorial Inquérito, Ler e Escrever.
§  ROCHA, Edmundo (2009) ''ANGOLA – Contribuição ao Estudo da Génese do Nacionalismo Moderno Angolano - Período de 1950 a 1964'', Colecção Olhar a História, Lisboa.
§  HENDERSON, Lawrence W. (1990) ''A Igreja em Angola'', Editorial Além-Mar, Lisboa.
§  ZAU, Filipe (2002) ''Angola: Trilhos para o Desenvolvimento'', Lisboa, Universidade Aberta.
Leia também:
§  O ‘’indígena’’ africano e o colono ‘’europeu’’: a construção da diferença por Processos legais - Maria Paula G. Meneses.
§  O Ensino Colonial Destinado aos ‘’Indígenas’’ de Angola. Antecedentes do Ensino Rudimentar Instituído pelo Estado Novo – Alfredo Noré e Áurea Adão.
§  Os Colonos da África portuguesa sob o regime colonial e seu deslocamento para o Brasil na pós-independência - Zeila de Brito Fabri Demartini e Daniel de Oliveira Cunha.
§  Voz de Angola em Tempo de Ultimato - Aida Freudenthal.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A África Sem História – Preconceito europeu e Contenção africana

A África é sem História?

Resumo
Em África, mais do que em qualquer outra parte, caminhamos sobre o nosso passado. A maior parte da história africana está enterrada e, para interrogar seriamente o passado deste continente, é preciso procurar abaixo da terra. Mas não se devem ir lá sem guia nem desordenadamente, porque, «quando não se sabe o que se procura, não se entende o que se encontra».
Segundo um preconceito arreigado, os africanos não teriam tido qualquer participação na obra geral da civilização. A África não teria história…até há poucos anos o passado da África era considerado sem interesse e a arqueologia africana tida como inexistente. Na realidade, a presumível barbárie dos africanos resultava sobretudo do desprezo com que os europeus dos fins do séc.XIX se aproximaram de populações que viviam há várias gerações em estado de guerra e insegurança permanentes.
As primeiras ideias sobre a não historicidade das sociedades africanas parecem ter sido expressas pelo filósofo alemão de grande renome J.G.Friedrich Hegel (1770-1831). À luz da filosofia ocidental, a África negra encontrar-se-ia excluída do processo histórico universal. Na sua obra Introdução à Filosofia da História (1830), escrevia precisamente:
‘’A África não apresenta interesse, não apenas do ponto de vista da sua própria história como também pelo facto de que vemos ali o Homem num estado de barbárie e de selvajaria que o impede de ser ainda parte integrante da civilização’’.
Hegel desconhecia a imensa biblioteca dos europeus do seu tempo e a campanha militar do seu vizinho Napoleão em 1798;nem podia ter tomado conhecimento dos trabalhos de Champollion Le-Jeune sobre a escrita egípcia. Como afirma Jostein Gaarder no seu livro O Mundo de Sofia, ''enquanto Atenas continuava a ser a capital da filosofia, com as escolas filosóficas deixadas por Platão e Aristóteles, Alexandria tornou-se a metrópole da ciência; com a sua grande biblioteca, esta cidade passou a ser  o centro dos estudos de matemática, astronomia, biologia e medicina''.
 Encontramos ainda ideias de A.P.Newton, a inferiorizar a África, quando declarava em 1923 que:
‘’A África não possuía nenhuma História antes da chegada dos europeus; este autor defendia ainda que a História começa quando o Homem se põe a escrever’’…
Em 1957 foi P.Gaxotte que escreveu sem pestanejar, na Revue de Paris:
‘’Estes povos nada deram a humanidade…e deve ter havido qualquer coisa neles que os impediu…estes povos nada produziram’’.
Outro grande historiador como Charles-André Julien, chegou ao ponto de entitular: «L’Afrique, pays sans Histoire» um parágrafo da sua obra L’Histoire de l’Afrique. Escreve aí:
‘’A África Negra, a verdadeira África, furta-se a História’’.
Assim, o conjunto de escrituras sobre a África, em particular as últimas décadas do século XIX e meados do século XX, contém equívocos, pré-noções e preconceitos decorrentes em grande parte das lacunas do conhecimento quando não do próprio desconhecimento sobre o referido continente.
Os africanos são identificados com designações apresentadas como inerentes às características fisiológicas baseadas em certa noção de raça negra.
Assim sendo, segundo Leila Leite Hernandez,
   ‘’o termo africano ganha um significado preciso: negro, ao qual se atribui um amplo espectro de significações negativas tais como frouxo, fleumático, indolente, incapaz, todas elas convergindo para uma imagem de inferioridade e primitivismo’’.
Em outros termos, aproximando a analogia o desconhecido ao conhecido, considera-se que a África não tem povo, não tem nação e nem Estado; não tem passado, não tem História.
Negada qualquer dimensão histórica aos seus povos, o continente africano passou a ser estudado apenas por linguístas, antropólogos, etnólogos, contaminados por profundo viés analítico eurocentrista. O que em geral pretendiam (e "conseguiam") era confirmar seus preconceitos sobre os "seres primitivos", as "ilhotas culturais", "sociedades estáticas e exóticas"; conceitos que povoavam a imaginação e atiçaram a curiosidade de algumas populações europeias. Foi o auge do efémero racismo científico que proclamava a inferioridade biológica dos negros e de outros povos não brancos.
 Outrossim, lemos várias citações e ao lê-las, deparamo-nos com alguns preconceitos senão mesmo com o desejo de espezinhar os africanos de que nada teriam feito para o desenvolvimento da humanidade e que para os europeus os africanos são de espírito não desenvolvido, um espírito a-histórico.
Ora vejamos que em nossa visão, discordamos do pressuposto de que a África é uma parte ahistórica, porque:
1º O facto de que os povos ‘’ágrafos’’ como diziam os europeus, povos sem escrita, não terem documentos escritos senão mesmo registos dos seus factos, isto não retira a hipótese de serem um povo com história e com um passado bastante rico e que deram um grande contributo para o desenvolvimento da humanidade (de que irei fundamentar ao longo deste artigo);
2º Não é verdade de que os africanos não desenvolveram a escrita uma vez que a escrita não é o único elemento com que se pode fazer a história.
3º Quando se afirma que determinado povo é sem história, sem cultura, escamoteamos o conceito de cultura que segundo A.L.Kroeber: ’’Cultura é a totalidade de usos e adaptações que se relacionam com a família, a formação política, economia, o trabalho, a moralidade, o costume, o direito e as maneiras de pensar’’.
Estas coisas prendem-se com a vida das sociedades em são praticadas e morrem com elas, ao passo que os horizontes civilizacionais não se perdem. A «cultura» não está, pois, especificamente associada aos valores, mas a sua parte, ou meio, «civilizacional» é tecnológica e cumulativa.
COMO ENTENDER O TERMO «CONTINENTE NEGRO»?
De uma ponta à outra da História registada, a África tem sido lamentavelmente incompreendida e maltratada pelo resto do mundo. A humanidade simplesmente não reconhece as suas dívidas e obrigações para com a África. Na imaginária ocidental, África é o «continente negro». Uma metáfora, talvez, mas também o símbolo poderoso de uma persistente tendência para situar África e os seus habitantes num lugar separado do resto da humanidade. É óbvio o duplo significado da expressão: o «continente negro» não se refere unicamente ao negrume da floresta africana equatorial, à densidade das suas sombras tropicais, à negritude da pele africana, nem sequer à tradicional falta de conhecimentos sobre este continente.
John Reader, faz uma abordagem da expressão «continente negro», que para ele,
         ‘’(…) acima de tudo, a expressão tacitamente rotula a
          África como o sítio onde existe uma muito peculiar
          forma de escuridão – a escuridão da humanidade’’.
Neste contexto, é em África que se fazem as coisas mais horríveis, não porque a aptidão para tais comportamentos seja uma característica de toda a humanidade mas porque África é considerada por natureza mais selvagem e menos civilizada do que o resto do mundo. 
PORQUÊ ESTUDAR A HISTÓRIA DE ÁFRICA?
Todos nós, independentemente das nossas origens, da nossa cor da pele, da nossa religião, precisamos conhecer de onde viemos, porquê existimos e para onde vamos, para que possamos estar localizados no tempo e no espaço.
Estudar a história da África é essencial para se dar conta desse desafio. Estão aí manifestações culturais e religiosas que sobreviveram à escravidão. Através delas, e no embate com a discriminação racial, defluem comportamentos característicos, atavismos, expressões de sentimentos, formas de organização e de convivência comunitária... Não se pode negligenciar conhecimentos que ajudem a decifrar esse universo tão dinâmico em si, e que se confunde com a própria dinâmica social brasileira. São parte da ampla e irreprimível vontade da maioria do povo brasileiro se conhecer melhor, para ser melhor e construir uma sociedade melhor.
A ÁFRICA MOSTROU QUE TEM HISTÓRIA!
O eurocentrismo – a visão de que a Europa é o centro do mundo – perde o seu sentido, quando aprendemos com o estudo da pré-história africana que lá, provavelmente, se encontram as origens do homem sobre a terra.
Desde 1911, com as primeiras descobertas do desfiladeiro Olduvai e de um vasto sítio arqueológico que acompanha o Great Rift Valley (uma ranhura geológica que se estende por um planalto interior da África central, passa pela Etiópia e vai até o Iraque); e principalmente a partir de 1960 quando, superadas as dificuldades de aceitação pela ciência "comprometida" da antiguidade desses achados, expedições de renomados cientistas incrementaram aqueles estudos...
Não se pode mais negar a ancestralidade africana do género humano. Ao ponto de Roland Olivier – autoridade em estudos africanos – afirmar:
’’Todos nós pertencemos a África’’.
Logo após a Segunda guerra mundial os estudos de história atravessaram uma dupla evolução. Por um lado, a transformação da história, partindo da crónica para chegar a uma ciência social que trate da evolução das sociedades humanas, por outro, da substituição dos preconceitos nacionais por uma visão mais ampla". Mas não seria fácil varrer das Ciências Sociais os vestígios do racismo científico que fora amplamente hegemónico ao longo do século XIX, e que teimava em perdurar. Naturalmente que para conquistar o direito a história, teria que ser o próprio africano (com a cumplicidade dos negros da diáspora), o sujeito das acções. E é no campo da acção política que efectivamente se resolvem questões de tal envergadura.
Foram decisivas para essa virada, os processos de luta e as conquistas das independências que empolgaram os povos africanos e galvanizaram a atenção de todo o mundo nas décadas de 50 e 60, ao mesmo tempo que a repercussão mundial das lutas dos negros norte-americanos pelos direitos civis.
Amílcar Cabral afirmaria com toda propriedade:
‘’Mais do que as disputas cruciais entre as superpotências. Mais do que as lutas de classes nos povos desenvolvidos, as lutas dos povos do terceiro mundo contra o colonialismo e o racismo são o motor da marcha da história da nossa época’’.
No 1o Congresso Internacional de Africanistas – Acra/Gana-1962: mais de 800 participantes. Kwame N’Krumah (presidente de Gana naquele momento e refinado intelectual com dois doutorados nos USA), descreveu em linhas gerais, no discurso inaugural, as responsabilidades da disciplina histórica para com a nova África.
Três anos depois, aconteceu o Seminário de Dar-es-Salam/Tanzânia-1965 – tema: “Novas Perspectivas para a história africana”. A partir daí (foram citados apenas três dos mais importantes), dá-se a avalanche de estudos e estudiosos. Agora eram profissionais – antes quem escrevera sobre a história da África, muitas vezes contribuindo positivamente, mas foram sempre amadores – que assumiam cargos em universidades europeias, com recursos e poder de influência. Também em África começaram a surgir importantes centros de estudos.
Em 1950 não havia nenhum historiador profissional que se dedicasse exclusivamente a pesquisar a história africana e ensiná-la. Vinte anos depois, cerca de 500 historiadores com doutorado ou qualificação equivalente elegeram a história da África como actividade principal.
A evolução dessa articulação intelectual e política alcançou, então, os organismos permanentes internacionais ainda na década de 60. Amadou Mattar M’Bow, eminente intelectual senegalês, assume o cargo de director geral da UNESCO – Órgão das Nações Unidas para a Ciência e a Cultura. Entre 1965-69 foi gastado sob seu patrocínio um ambicioso projecto: tratava-se de organizar o mais extensa e completamente a historiografia sobre África até o momento, ao mesmo tempo, que propiciar aos especialistas as condições de intensificar e aprimorar pesquisas com diversas abordagens, além de estudarem mais ampla e detidamente as relações interregionais em África e dessa com outros continentes. O resultado foi oito volumes com cerca de 800 páginas cada. A redacção e a publicação das obras ficarão a cargo de um comité internacional de trinta e nove membros (dois terços de africanos) sob a coordenação geral de Joseph Ki-Zerbo – um professor senegalês.
A HISTÓRIA DE ÁFRICA É PARTE INCONTESTÁVEL DA HISTÓRIA DO MUNDO!
Hoje, são incontáveis os estudos que provam que historicamente o continente africano é uno. A partir do século VII há registros escritos dos contactos regulares entre os muçulmanos do norte e os povos do Sudão ocidental e central (toda região que vai da costa noroeste à nordeste, abaixo do Sahara e acima da floresta equatorial); bem antes, porém, há notícias de ligações comerciais entre os Berberes e esta mesma região; além dos cartagineses que teriam atingido o golfo da Guiné ainda nos anos iniciais da era cristã.
Também na região nordeste da África são mais do que conhecidas as relações entre os etíopes e os povos do norte do continente, ainda na antiguidade. Após o declínio do antigo império egípcio e o sucessivo domínio do delta do Nilo por Persas, Gregos, Assírios, foram as dinastias Kush-Meroe, que vinham do sul, que restauraram o império egípcio, pouco antes da era cristã. Pela mesma época, tomava vulto nas terras altas da Etiópia o reino de Axum, que chegou a ser “o maior mercado de marfim do nordeste da África”.
Nos anos 50 e 60, a egiptologia e particularmente os trabalhos de Sheik Anta Diop – físico e historiador senegalês – sacudiram a opinião pública mundial ao afirmarem que as grandes civilizações egípcias da antiguidade eram negras.
Actualmente existe farta bibliografia sobre as sociedades pré-coloniais, dando conta de que, em quase todas as regiões houve, tanto sociedades horizontais – não hierarquizadas, que não constituíram Estados – quanto sociedades política e economicamente mais complexas, com a formação de Estados.
Variadíssimos reinos ou impérios foram fundados em África, dos quais passaremos a citar alguns:
Na África Centro-Ocidental:
§  O Reino do Congo: Antes da chegada dos portugueses possuía uma sólida economia baseada na agricultura com técnicas complexas, principalmente dos cereais. Depois do século XVI sua história se confunde com a história do tráfico.
§  O Reino do N'dongo: fundado no início do século XVI. a) Foi o reino onde despontou N"Zinga M"Bandi, mulher extraordinária, a começar por ter se tornado chefe de um importante Estado e a principal liderança de uma coligação de vários povos do interior da região onde hoje é Angola.
No Sudão Ocidental:
§  O Império de Gana: que tinha no ouro seu principal produto, teve seu exército estimado por um escritor muçulmano, no seu auge – século X – em cerca de 200.000 homens. Este número, mesmo que super avaliado, dá uma ideia da riqueza e poder daquele Império. Quando entrou em decadência, no século XI foi derrotado pelo Império Almorávida.
§  O Império do Mali: foi fundado no século XIII por Sundiata, um nome que até os dias de hoje, evoca a mais profunda reverência do povo Mandinga e de todos os povos da região. A importância comercial do Mali fez o explendor de Tombuctu, um dos principais centros comerciais do Sudão. Tombuctu tornou-se um verdadeiro centro cultural com muitos letrados, médicos, juízes. O comércio livreiro é ai mais lucrativo que qualquer outro negócio.
No reinado de Mansa Mussa, este imperador do Mali, convertido ao Islão, fez uma peregrinação a Meca – 1307 a 1332. Foi tamanha a riqueza que levou consigo, que causou inflação durante anos nas regiões por onde passou, deixando marcas na imaginação dos povos muçulmanos.
§  O Império de Songhai (GAO): fundado na Segunda metade do século XV, marca a história não apenas como sucessor de Gana e Mali, mas pela qualidade de seu aparato administrativo. O Estado GAO possui, pela primeira vez no Sudão ocidental, um exército profissional e uma arrecadação sistemática de impostos.
É importante referir que, esses reinos e outros menores da região eram baseados na agricultura, mas encontravam no  comércio de longa distância um factor de ampliação de suas riquezas, prestígio de seus governantes e engrandecimento de suas artes e cultura. Sua decadência final só ocorre em função da emergência do comércio atlântico.
No Sudão Central:
§  As Cidades-Estado Hauças, cujo primeiro núcleo civilizatório teria surgido no século XI. Era uma sociedade profundamente urbanizada e a vida económica se estruturava em torno das cidades, em geral, fortificadas. Foi palco de uma revolução islâmica de profundo conteúdo social – a revolução de Osman Dan Fódio. Produzia um refinado artesanato em ferro, ouro, madeira e couro. O comércio que mantinha com as regiões sudanesas e com o norte da África só teve fim ao final do século XIX, com a ocupação dos exércitos coloniais.
Na Guiné Central e Equatorial:
§  O Reino de Oió: fundado no século XIII, era a capital política dos povos Yorubás. Estes, nunca chegaram a constituir grandes impérios, mas, desde o século X vinham desenvolvendo uma civilização que influenciou toda aquela região.
§  O Reino de Abomei: criado no século XVII em função do comércio negreiro. Era um Estado militarizado e com uma curiosidade: um destacamento de Amazonas famoso por sua combatividade.
§  O Reino de Benin: surgido no século XII, foi o único reino de maior expressão localizado em regiões florestais. Era fortemente influenciado pelos Yorubas, principalmente quanto ao desenvolvimento da magnífica produção artística. Máscaras de Bronze do Benin estão, até hoje, em exposição nos mais importantes museus da Europa.
§  A Confederação Ashanti: foi outro Estado importantíssimo, criado por volta de 1630. Seu poderio também se baseava no envolvimento com o tráfico de escravos.
Na África Centro-Oriental:
§  Esta região se caracteriza pela existência de uma vasta civilização do tronco linguístico Bantu, desde os primeiros anos da era cristã. Seus povos estão subdivididos em diversos grupos étnicos, que possuem em comum, além da base linguística, o domínio de técnicas agrícolas, da metalurgia do ferro e a prática do pastoreio de gado ovino e vacum. Ao que se sabe, apenas uma etnia Bantu, nesta região, constituirá um Estado de grande porte e com características absolutamente originais:
§  O Império dos Muene-Mutapas: localizado nas excepcionais terras do planalto rodesiano. É característica desse império, as Zimbabues (que deram o nome actual ao país onde se localizam), que quer dizer Casa Real. São fortificações construídas com blocos de pedra, com técnicas originais que surpreenderam os colonizadores. Para eles, era inaceitável que "selvagens" realizassem aqueles prodígios de tecnologia. Considera-se uma divisão na história dos povos construtores das Zimbabwes em duas fases: de 1075 a 1440, e deste ano, quando nasce o império Rozui (possivelmente um clã da etnia Shona), até 1830, quando teve fim a civilização Shona, invadida pelo povo N'Goni. Os Shona – e o império dos Muene-Mutapas ou Monomotapas, que quer dizer senhor das terras arrazadas – participaram do intenso movimento comercial hegemonizado pelos Árabes.

A TRADIÇÃO ORAL E SUA ESSÊNCIA PARA OS AFRICANOS
A tradição oral é ainda muito discutida como fonte histórica, embora cada vez menos. Os historiadores mais reticentes, a que chamaremos os «feiticistas», como Brunschvig, continuam a negar qualquer utilidade à tradição oral. Os funcionalistas que apenas vêem nela mitos tecidos para as necessidades de uma causa, são pouco mais ou menos da mesma opinião. Os Cronófilos lamentam que a ausência de cronologia segura, traga consigo um encadeamento arbitrário dos factos que torna difíceis ou falsas as relações causais, encontrando-se a perspectiva histórica comprimida, esquartejada ou destruída.
Durante muito tempo se pensaram que os povos sem escrita, são povos sem cultura. A África Negra não possui escrita, mas isto não impede que conserve um passado e que os seus conhecimentos e cultura sejam transmitidos e conhecidos.
Porém, em África quando morre um mais velho, desaparece uma biblioteca. Uma coisa é a escrita e outra o saber. A escrita é a fotografia do saber, mas não o saber. O saber é uma luz para o homem.
Em nossa visão, a escrita não é o cocuruto senão mesmo o único elemento com que se pode fazer a história, tudo porque existe outras fontes para a descrição da história de um povo; peso embora a escrita seja a mais perdurável segundo os europeus; mas os africanos usaram diversificadas formas de relatarem determinados acontecimentos por eles vivenciados.
A maior parte dos historiadores da África admite agora, porém, a validação da tradição, mesmo que muitos a considerem menos consistente do que as fontes escritas ou exigem que ela seja sustentada por uma outra fonte.
DIVERSAS FORMAS DE ESCRITAS CRIADAS PELOS AFRICANOS
A invenção decisiva que libertou as forças vivas da sociedade e a fez ascender a um estádio superior de organização foi a ESCRITA, que favorece a capitalização e a difusão das ideias, a coesão e o dinamismo do corpo social.
A África Negra conheceu alguns sistemas de escrita. Os Egípcios inventaram a escrita. Os seus hieróglifos eram de início símples desenhos que simbolizavam a coisa representada ou o seu conteúdo. Escrevia-se em papiros (donde veio a palavra papel), preparados a partir de uma planta ciperácea do Nilo.
Certas tribos usaram expressões gráficas. Os Mandingos, Dogons, Bambaras e Bozos usaram e ainda usam uma gama muito variada de sinais. Os homens Dogons empregam um sistema semelhante de 22 grupos contendo cada um 12 expressões. Parece que as mulheres empregam um sistema de sinais-figuras. Terá esta escrita algum parentesco com os hieróglifos egípcios?
Na Guiné, parece que existiram os alfabetos «toma» e «guéze». No entanto foi o árabe a primeira escrita espalhada pelo interior africano. Os negros depressa transcreveram as próprias línguas em caracteres árabes.
Encontramos na África Ocidental o ayami e muitas obras estão escritas em suaíli, haus, peul, kanuri, núbio e haussa.
 Os Vai da Libéria, inventaram um tipo de escrita com desenhos-figuras. Mais tarde deram ao desenho um valor fonético e a escrita passou a ser simbólica. Foi um negro expatriado da América que inventou a escrita dos Bassas da Serra Leoa; e a dos Mandés também se deve a um negro chamado Kisuna Kamala. É um sistema silábico em que as vogais são pontos colocados debaixo das consoantes.
Uma sociedade secreta do sul da Nigéria inventou uma escrita simbólica, chamada «nsibidi» e Njoya, chefe bamun dos Camarões cria outra que ainda permanece desconhecida. Com esta redigiram a história do povo e dos seus chefes.
A escrita não é um sinal, um símbolo humano como tantos outros? Em alguns aspectos da cultura, não atingiram certas sociedades um requinte, sem utilizar a escrita? Estas lacunas são falhas históricas e não carências metafísicas, consubstanciais a não ser que a ‘’natureza negra’’, pois alguns Negros inventaram sistemas de escrita e milhões de outros dominaram esta técnica.
A TRADIÇÃO ORAL - FONTE DE CONHECIMENTO PARA OS AFRICANOS
Contudo, a literatura oral foi sempre uma grande riqueza cultural. Os povos ágrafos são povos de extraordinária, memória. Na África Negra, a tradição oral não é apenas fonte principal de comunicação cultural. É uma cultura própria e autentica porque abarca todos os aspectos da vida e fixou no tempo as respostas às interrogações dos homens. Relata, descreve, ensina e discorre sobre a vida.
Através desta cultura, podemos descobrir o pensamento negro e os seus comportamentos individuais e sociais. A riqueza espiritual, o valor didáctico e histórico, o significado moral e o variado poder de expressão são uma prova eloquente da «sabedoria negra» e os especialistas vêem-se obrigados a aprofundá-la como processo eficaz para atingir o mundo negro.
A tradição negro-africana transmite o essencial. É um sistema de auto-interpretação. Através da tradição oral, a sociedade explica-se a si mesma. A história falada dos africanos aproxima-se de uma verdade ontológica, ou mais exactamente, ela fixa o olhar do homem nas questões ontológicas ignoradas pela história científica das sociedades europeias.
Para nós, dizia Bernard Dadié:
‘’os contos e as lendas são autênticos museus, monumentos, cartazes das ruas, numa palavra, são os nossos únicos livros’’.
A civilização negro-africana baseia-se na palavra; é essencialmente oral. A palavra é uma arte e há toda uma literatura elaborada pela oralidade…De facto a oralidade faz parte da maneira de ser do Negro-africano: aqui a palavra não voa, permanece e transmite-se piedosamente, de geração em geração, por intermédio de especialistas, isto é, dos mestres, os chamados ‘’poços ou sacos de sabedoria’’.
A tradição oral é assim, uma biblioteca, o arquivo, o ritual, a enciclopédia, o tratado, o código, a antologia poética e proverbial, o romanceiro, o tratado teológico e a filosofia.
O PASSADO DE ÁFRICA E SUA VALORIZAÇÃO
A valorização do passado do continente africano é um sinal dos tempos. O motivo subjectivo é evidente.
Como afirma Joseph Ki-Zerbo,
‘’Para os africanos trata-se da procura de uma identidade por meio da reunião dos elementos dispersos de uma memória colectiva’’.
Este ardor subjectivo tem ele próprio, o seu funcionamento objectivo no acesso à independência de numerosos países africanos, que durante a colonização, a sua história não passava de mero apêndice, de acrescento à história do país colonizador. O choque de culturas não pode deixar o africano desenraizado. Há princípios, valores, reflexões e estruturas que a África negra não pode perder porque constituem a sua especificidade-identidade cultural, o manancial da sua vivência, a sua riqueza nacional e moral. O passado colectivo, as raízes dum povo, constituem a herança e o património sagrado que cada indivíduo e cada comunidade recebem dos antepassados para ser o seu alimento, a razão profunda da sua existência.
Os antepassados de toda a humanidade evoluíram a partir da África. As mais antigas provas da sua existência foram descobertas na África Oriental…apesar de ser o segundo maior continente, África constitui 22% da superfície sólida da terra, mais concretamente numa área de 30.343.551 quilómetros quadrados.
Como dizia Patrice Lumumba na última carta a sua mulher:
                      “A história dirá um dia a sua palavra…
a África escreverá a sua própria História.”
Referências Bibliográficas
§  FAGE, J.D. (2010) ''História da África'', Edições 70, Lisboa.
§  GAARDER, Jostein (S/D) ''O Mundo de Sofia - Uma Aventura na Filosofia'', Editorial Presença, Brasil.
§  HERNANDEZ, Leila Leite (2005) ''A África na sala de aula – visita à História Contemporânea'', São Paulo, Selo Negro.
§  READER, John (2002) ''ÁFRICA – Biografia de um Continente'', Publicações Europa-América, Portugal.
§  KI-ZERBO, Joseph (2009) ''História da África Negra'', Volume I, Publicações Europa-América, Portugal.
§  KEITA, Boubakar N. (2009) ''História da África Negra'', Textos Editores, Luanda.
§  PAULME, Denise (S/D) ''As Civilizações Africanas'', Publicações Europa-América, Portugal.
§  PE.ALTUNA, Raul Ruiz de Asúa (2006) ''Cultura Tradicional Bantu'', Editora Paulinas, Luanda.
§  KROEBER, A.L. (1952) ''A Natureza da Cultura'', Edições 70, Lisboa.
Leia também:
§  A História da África nos bancos escolares. Representações e imprecisões na literatura didáctica - Anderson Ribeiro Oliva.
§  África ou a narrativa da utopia - Lúcia Helena Marques Ribeiro.
§  O Passado Presente na Literatura Africana – Rita Chaves.
§  Porque Estudar História da África? - Amauri Mendes Pereira.