INTRODUÇÃO
Angola
como sabemos, é um país africano imenso, que tem a extensão territorial de
1.246.700 Km2, rodeado pela República Democrática do Congo, pela
Zâmbia a leste e pela Namíbia a sul, ocupada por cerca de uma centena de etnias
e subetnias, de origem Bantu.
Segundo
Herlânder Felizardo, por seu turno, tenta fazer uma abordagem sobre os Bantu.
Para ele,
‘’o termo Bantu foi proposto na África do
Sul, em 1856, pelo alemão Wilhehm Bleek, para se referir a uma ‘’família’’ de
línguas que usavam uma raiz ntu para
‘’pessoa’’; muntu, singular, e
bantu, plural na grande maioria’’.
A sociedade angolana é plural, composta por vários grupos culturais. A maior parte dos povos de Angola são falantes de língua Bantu, integrando um grupo que ocupa um terço do continente africano.
Os principais grupos etnolinguísticos entre os povos angolanos são os seguintes:
Os principais grupos etnolinguísticos entre os povos angolanos são os seguintes:
1º OS
OVIMBUNDU – grupo etnolinguístico Umbundu
Com mais de um terço da população (33%), sendo o maior de todos e o mais homogéneo de Angola, incluía as províncias de: Benguela, Huambo e Bié. Em finais do século XIX estavam organizados politicamente em 12 reinos, dos quais o do Bailundo, Bié, Chyaka, Galangue e Andulo eram os mais poderosos. O seu idioma é o Umbundu. As três funções mais importantes desempenhadas pelos reis consistiam em comunicar com o mundo espiritual, relacionar-se com os outros povos e administrar a justiça.
Com mais de um terço da população (33%), sendo o maior de todos e o mais homogéneo de Angola, incluía as províncias de: Benguela, Huambo e Bié. Em finais do século XIX estavam organizados politicamente em 12 reinos, dos quais o do Bailundo, Bié, Chyaka, Galangue e Andulo eram os mais poderosos. O seu idioma é o Umbundu. As três funções mais importantes desempenhadas pelos reis consistiam em comunicar com o mundo espiritual, relacionar-se com os outros povos e administrar a justiça.
O
rei era o sacerdote supremo do seu povo, uma vez que os seus antepassados eram
as principais divindades comunais. Ele e os seus curandeiros ofereciam
sacrifícios no altar régio com o objectivo de controlar os elementos e
assegurar a fertilidade e o sucesso nas caçadas. Cada rei umbundu exercia a sua
autoridade sobre uma série de sub-reinos, ou atumbu. O reino maior de todos, o Bailundo, era composto por cerca
de 200 atumbu, governado cada atumbu, entre três a trezentas aldeias.
Os
Ovimbundu eram temidos durante muito tempo pelos seus vizinhos por causa das
suas incursões de intuitos escravocratas. Estes agricultores que por algum
tempo se transformaram em caravaneiros de longo curso, raramente se sentiam
tentados a rejeitar os moldes europeus e, por esse facto, foram frequentemente
usados para colaborar com os portugueses.
2º OS
KIMBUNDO
Os
M’bundu (Kimbundu), situados entre os rios Cuanza e Dande, com cerca de 26% da
população, abrangendo Luanda, na costa, até à bacia do Cassange, na parte
oriental do distrito de Malange. Faziam parte deste grupo Kimbundu vinte povos:
Ambundu, Luanda, Luango, Ntemo, Puna, Dembo, Bangala, Holo, Cari, Chinje,
Minungo, Bambeiro, Quibala, Haco, Sende, Ngola ou Jinga, Bondo, Songo, Quissama
e Libolo. Exprimem-se em Kimbundu.
Como afirma Segundo
Teresa Neto:
‘’ grupo Kimbundu constitui
o grupo étnico, no centro do país, que mais assimilou os costumes coloniais
portugueses’’; e, Lawrence
W.Henderson corrobora afirmando também que ali foi o centro da assimilação
porque na abordagem dele: ‘’os Kimbundu
aprenderam o português ao serem assimilados, como foram eles quem produziu as
primeiras obras das literaturas escritas angolana’’.
3º OS BACONGO
Com cerca
de 13% da população, era o terceiro maior reino de Angola. Era composto por
oito povos, relacionados entre sí, os quais ocupavam Cabinda e distrito do
Zaire e Uíge.
Aquando
à chegada dos portugueses em Abril de 1482, era o mais forte e estruturado
nessa região da África Central. Mas ao fim de dois séculos de colaboração
intensa com os portugueses, no comércio de escravos, o que de início constituiu
um factor de enriquecimento das linhagens aristocráticas, teve gradualmente
como consequência o enfraquecimento das estruturas sociopolíticas.
4º OS
OVAMBUS – grupo etnolinguístico Ambo – Criadores de gado e lavradores
Este
grupo representava menos de 3% da população, possuíam a maioria do gado em
Angola, sendo os principais fornecedores do planalto central. A sua economia
devia classificar-se como agro-pastoril, uma vez que dependiam tanto da
agricultura como da criação de gado, dando preferência em possuir uma grande
manada, e que para eles o gado constituía uma parte importante da vida, embora envolvam mais na agricultura do que os seus vizinhos Herero.
Os
Ambo ocupavam a fronteira entre Angola e a Namíbia. Em Angola aquela dominação
aplicava-se ao grupo etnolinguístico que incluía os Cuanhama, Cuamata,
Dombandola, Evale e Cafima.
Os
Ambo não viviam em aldeias como os Umbundu. A população rural dividia-se em
comunidades ou distritos, tendo cada comunidade um numero que oscilava entre as
cem e as trezentas famílias, que ocupavam uma área de limites mal definidas,
chamadas chilongo. Os
Ambo não tinham um tipo centralizado de monarquia, mas todos os povos tinham o
seu rei. Entre os Ambo de Angola, os reis dos Cuanhama desempenharam um papel
preponderante.
5º OS
NHYANECAS-HUMBI – grupo etnolinguístico Lunhaneca – Conservadores
Os
Nhanekas-Humbe, situando-se geográfica e culturalmente entre os Umbundu e os
Ambo, representavam cerca de 5% da população angolana. Dispersaram-se pelos
distritos de Huíla e Cunene, desde as vilas de Chongoroi e Quilengues, a norte,
até à fronteira da Namíbia, a sul. Este grupo é composto por dez povos. Os
Muílas, os Gambos, os Humbes, os Donguenas, os Hingas, Cuancuas, Handa de
Quipungos, Quilengues-Humbes e Quilengues-Musos.
O
grupo Nhaneka-Humbe era o mais conservador de todos os povos de Angola, são acima de tudo pastores, deixando para as mulheres todas as atividades agrícolas que praticam. Eles
tinham sido menos influenciados do que os outros pela cultura europeia, apesar
de um número relativamente grande de colonos portugueses ter invadido o seu
território em meados do século XIX. Este conservadorismo que resistiu à urbanização
fez com que Sá da Bandeira/Lubango, situado em pleno território Nhaneka-Humbe,
fosse a única cidade em Angola a ter uma maioria branca.
6º OS
HEREROS – grupo etnolinguístico Tcherero - Verdadeiros
pastores
Os Hereros
podia disputar com os Nhaneka-Humbe a classificação de «o mais conservador»,
mas como os povos Herero eram pouco numerosos, o seu lugar na cena angolana
revestia-se de menor importância. Os
poucos milhares de Dimbas, Chimbas, Chavicuas, Hacavonas, Cuvales, Dombes,
Cuanhocas e Guendelengos ocupavam o território situado nos distritos de
Benguela, Moçamedes e Huíla, chegando ao interior a partir do deserto de
Namibe.
Do
ponto de vista económico, os Herero eram, entre todos os angolanos, os que mais
se dedicavam à criação de gado. Os grupos vizinhos, os Ambo e os Nhaneka-Humbe,
davam mais importância à sua riqueza pastoril do que à agrícola, tudo porque o grande valor que davam ao gado não era apenas fundamental para a economia mas também para o seu sistema cultutal de valores, pois repudiam quaisquer atividades sedentárias, não descartando a sua longa tradição agrícola. Em 1958, o membro mais velho Herero
lembrava-se ainda do tempo antes da agricultura ter entrado na economia do seu
povo.
7º
OS LUNDA-TCHOKWE – grupo etnolinguístico Tutchokwe -Caçadores
por excelência
Conhecidos pelo seu talento artístico, estes povos têm-se deslocado para Angola a partir da região do Congo-Catanga ao longo dos últimos 150 anos, sobretudo como caçadores e comerciantes. Os
povos do grupo Lunda-Chokwe incluíam os Lunda, Lunda-lua-Chindes, Lunda-Ndembo,
Mataba, Cacongo, Mai, e Chokwe. Na denominação composta deste grupo, «lunda»
refere-se ao grande império da África Central, que no século XVIII enviou
chefes políticos de Katanga/Shaba, no Zaire, para as zonas mais populosas do
Leste de Angola. Entre os povos que os chefes lunda foram encontrar, estavam os
Chokwe, que viviam para lá da religião banhada pelos rios Kasai, Cuango,
Zambeze e Cuanza, no Centro-Leste de Angola.
A
organização sociopolítica dos Chokwe assentava em doze clãs matrilineares,
governados por chefes de linhagens menores. Os Lundas impuseram-se como
dirigentes políticos aos governantes locais e fundaram reinos, segundo o modelo
que vigorava no império lunda.
Em
finais do século XIX, os Chokwe eram o povo mais agressivo e mais independente
em toda a Angola, mostrando sê-lo ao século passado, no terem começado a expandir-se
em direcção ao Centro de Angola. O poder económico reforçava ainda mais a sua não
dependência, visto que o marfim, a cera e a borracha, que constituíam os
produtos principais das trocas comerciais em finais do século XIX, se
encontravam essencialmente na parte leste de Angola em áreas controladas pelos
Chokwe.
Eram
também bons caçadores, tendo acumulado armas de fogo. Por trocas que efectuavam
ou por ataques que perpetravam, adquiriam muitas mulheres e escravas, que iam
aumentar em grande número a população Chokwe, não só pelo facto de serem
muitos, mas por estarem em idade de conceber.
Os
Chokwe, para além de serem conhecidos como caçadores-guerreiros orgulhosos e
independentes, eram ainda famosos como artistas. Os seus escultores executavam
em madeira elegantes figuras humanas e máscaras para os rituais. Uma outra
parte em que os Chokwe foram verdadeiros mestres era a pintura mural.
8º
OS GANGUELAS – grupo etnolinguístico Tchinganguela Pescadores
Os
Ganguelas representavam cerca de 7% dos angolanos: os Luimbe, Luena, Lovale,
Lutchazi, Bunda, Ganguela, Ambuela, Ambuila-Mambumba, Econjeiro, Ngonielo,
Nhemba e Avico. O antropólogo americamo, George Murdock, inclui a maioria
destes povos num agrupamento Lunda, juntamente com os Chokwe.
O
grupo Ganguela era o mais heterogéneo de Angola. Os anteriores grupos
etnolinguísticos descritos, que representavam mais de 95% da população em
finais do século XIX, eram todos bantos. Os restantes grupos eram os Khoisans,
que eram representantes dos povos que viviam em Angola antes da invasão dos
Bantos, depois os portugueses e os mestiços.
9º O GRUPO KHOISAN – Os
nativos de Angola
Os
Bosquímanos Kung, a sul de Angola, chamavam-se a sí próprios o «povo
inofensivo», ou seja, zhu twa si. Aos
não bosquímanes, eles chamavam zosi, o
que quer dizer «animais sem casco». Segundo eles, os não bosquímanos eram maus
e perigosos como as hienas e os leões. Quando os Bantos, ou os «animais sem
casco», entraram em Angola, quatro a dez séculos atrás, foram encontrar
populações que se dedicavam à caça e que eram de tal modo inofensivas que
depressa se deixaram dominar.
Khoisan
é uma palavra composta a partir de khoikhoi,
que era o nome hotentote que eles se davam a sí próprios, e san, que era o nome que atribuíam aos
Bosquímanos.
Em
finais do século XIX, alguns milhares de bosquímanos dispersaram-se pela parte
sul de Angola e pelo deserto da Calaári, em bandos constituídos por famílias
pouco numerosas. Os Bosquímanos, de constituição frágil e de pele amarelada,
viviam uma vida nómada sem se fixarem permanentemente.
Por
sua vez, Boubacar N. Keita, aborda que:
‘’os
Khoisans, pequenos pela estatura – 155 centímetros para os homens e 145 para as
mulheres, ter-se-iam formado como entidade
particular durante o Paleolítico Superior…as suas características antropológicas, têm suscitado o mais vivo interesse
e provocado apaixonante debates entre
vários especialistas ’’.
A
organização social dos Bosquímanos, assentava simplesmente na família nuclear,
a qual, muito raramente, ia para além das vinte pessoas, podendo ser composta
por um homem já velho, pela mulher, as suas filhas, genros e netos e talvez
ainda por um ou dois filhos solteiros.
OS TRÊS PRINCIPAS GRUPOS
ETNOLINGUÍSTICOS DE ANGOLA E SUAS RESISTÊNCIAS CONTRA O MOVIMENTO COLONIAL
PORTUGUÊS
Dentre
estes grupos citados acima, adianta-nos caracterizar neste artigo, os três
principais grupos etnolinguísticos de Angola, que segundo Edmundo Rocha, a sua
população era, em 1960, a seguinte:
§ Ovimbundu (Umbundu) ......................... 1 750 000
§ M’Bundu (Kimbundu) …………………..
1 050 000
§ Bakongo (Kikongo) …………………….. 620 000
Os
três grandes grupos étnicos são por ordem decrescente da população são os Ovimbundu, os M’Bundu e os Bakongo, que
representam cerca de 75% da população e ocupam as regiões economicamente mais
importantes, o litoral, o litoral norte e centro e o planalto central. Os dois
primeiros grupos étnicos, são essencialmente angolanos, ao passo que os Bakongo
faziam parte do grande reino do Congo, radicado historicamente numa área que
abrange o ex-Congo Francês, o ex-Congo Belga e o norte de Angola. Entre os três
grandes grupos étnicos angolanos, foram os M´bundu/Kimbundu que tiveram os
contactos mais prolongados, contínuos e profundos com os portugueses. Com efeito,
após a fundação de S.Paulo de Luanda, no dia 25 de Janeiro de 1575, os
portugueses progrediram para o interior, encontrando uma grande resistência por
parte do povo M’bundu.
Só
um século depois, em 1671, conseguiram estabelecer-se em Pungo Andongo, e séculos
depois (1870), em Cassange. Entretanto, empurrados para o interior, os M’bundu
criam os reinos de Matamba e Cassange. É no decurso desta progressão que
aparece a figura mítica da rainha N’zinga M’Bandi Ya-Ngola Kia Samba
(1584-1663).
A
estrutura politica e social dos grandes reinos M’bundu do interior, manter-se-à
homogénea até ao século XX, sendo pouco «aportuguesados», referindo-se
principalmente aos reinos da Matamba e de Kassanji; ao passo que as populações
M’bundu do litoral, submetidas desde cedo ao domínio colonial, são
profundamente dispersas, desestruturadas, cristianizadas e «portuguesadas».
Os
Ovimbundu ou Umbundu (Galengue, Huambo, Bailundo, Bié), povos numerosos e
empreendedores, estabelecem a ligação entre o litoral e os povos longínquos,
Lunda – Quiocos e Ganguelas, com quem comerciam e onde se vão aprovisionar de
escravos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
§ FELIZARDO,
Herlânder (2005) ''ANGOLA: Campo de Missões Cristãs''.
§ HENDERSON, Lawrence W. (1990) ''A Igreja em Angola'',
Editorial Além-Mar, Lisboa.
§ ROCHA,
Edmundo (2009) ''ANGOLA – Contribuição ao Estudo da Génese do Nacionalismo Moderno
Angolano, (período de 1950-1964)'', Editora DINALIVRO, Lisboa.
§ MEDINA,
Maria do Carmo (2005) ''ANGOLA – Processos Políticos da Luta pela Independência'',
Edições Almeida, Coimbra.
§ NETO,
Teresa da Silva (2010) ''História da Educação e Cultura de ANGOLA: Grupos Nativos, Colonização e Independência'', Garrido Artes Gráficas
– ALPIARÇA.
§ KEITA,
Boubakar N. (2009) ''História da África Negra'', Textos Editores, Luanda.
§ WHEELER, Douglas; PÉLISSIER, René (2011) ‘’História de Angola’’, 1ªEdição, Tinta de China Edições, Lisboa.
Leia
também:
§ ANGOLA:
Trilhos para o Desenvolvimento – F.Zau