domingo, 26 de fevereiro de 2012

A ESSÊNCIA DA CULTURA

RESUMO
As palavras ‘’cultura’’ e ‘’civilização’’, segundo a famosa definição de Edward Tylor, em 1871, designam a totalidade complexa que compreende os conhecimentos, as crenças, as artes, as leis, a moral, os costumes e todo e qualquer outro hábito, ou capacidade, adquirido pelo homem enquanto membro da sociedade; a cultura é a bússola de qualquer sociedade, sem a qual os seus membros não saberiam nem de onde vinham nem como se deviam comportar. O aparecimento do conceito de cultura como sinónimo de educação e de formação do espírito foi com efeito contemporâneo, na segunda metade do Século XVIII, de dois fenómenos importantes: a emergência do indivíduo como sujeito autónomo e o advento da nação como sujeito coletivo. As sociedades humanas são sociedades de cultura. Nisto, distinguem-se das organizações animais.
A cultura constitui o fundamento da vida social, ela desempenha no talhar das identidades coletivas uma função social. Sabemos que todos os seres humanos têm cultura, e que a cultura não é inata das pessoas, mas é adquirida na convivência em grupo. E o lugar ideal para a aquisição, desenvolvimento e conscientização da importância da cultura, ainda é a escola. Nela, professores e alunos trocam experiências, vivências em singular idades. Convivem diariamente com as diferenças e praticam a “inclusão cultural”. Diante do exposto, percebe-se a necessidade de investimento nas escolas, direccionado ao desenvolvimento artístico e cultural, no que diz respeito a profissionais da área artística, e a material de apoio específico ao desenvolvimento da cultura.
Nos finais do séc. XIX e princípios de séc.XX, começaram a surgir dúvidas entre os antropólogos quanto ao postulado do progresso contínuo e da evolução unilinear da cultura. Os antropólogos iniciaram o seu trabalho dirigindo a sua atenção, fundamentalmente, para as ‘’culturas menores’’ das sociedades pequenas ou «primitivas». Só gradualmente se aventuraram a tentar incluir, igualmente, as ‘’civilizações maiores’’ e ‘’mais ricas’’, conhecidas através da sua história.
Para o grande sociólogo e filósofo francês Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1857), os factos sociais e culturais continuavam a ser todos meramente sociais e, no essencial, era também a posição do sociólogo francês David Émile Durkheim (1858-1917). A Cultura atua tendo a civilização como meio. A civilização refere-se assim, a uma cadeia essencialmente temporal de progresso variável cumulativo – um progresso irreversível.
Segundo Francis Fukuyama,
‘’As civilizações desenvolvem-se porque dispõem de um instrumento de expansão que é uma organização militar, religiosa, política ou económica que acumula os excedentes e os investe em inovações produtivas’’.
A cultura não está pois, especificamente associada aos valores, mas a sua parte, ou meio civilizacional é tecnológica e cumulativa. Como todas as ideias importantes, a ideia de cultura foi obra de muitos espíritos e desenvolveu-se gradualmente. Ainda há muitas grandes nações civilizadas, como por exemplo a francesa, que se recusam a admitir a palavra «cultura» no seu vocabulário intelectual. Quando Comte fundou a Sociologia e cunhou o seu nome, há mais de um século, imprimiu nela o cunho de social.
A palavra ‘’social’’, é em sí, uma designação relativamente recente. O termo romano era civilis, civitas, de civis, um ‘’cidadão’’, correspondendo à definição de Aristóteles do homem como zoon politicon ou ‘’animal político’’ – um animal civil para os Romanos, um animal social para nós. Quando Aristóteles queria falar genericamente daquilo a que chamamos «sociedade» e «cultura», empregava a palavra polis, que continuava a sugerir cidadela e muralha, cidadãos livres com o direito de votar e de lutar. A cultura é vista como a principal característica humana, que desenvolveu-se simultaneamente com o equipamento fisiológico do homem. A cultura molda uma vida num ser biologicamente preparado para viver mil vidas.
Para Kroeber, cultura ‘’é a totalidade de usos e adaptações que se relacionam com a família, a formação política, a economia, o trabalho, a moralidade, o costume, o direito e as maneiras de pensar’’.
A cultura, portanto, deve ser vista e entendida como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, tem visões desencontradas das coisas.
 
CARATERÍSTICAS DAS CULTURAS
É evidente que as culturas, no sentido antropológico do termo, não são entidades dotadas de uma substância intemporal e permanente tudo porque elas não constituem totalidades orgânicas com fronteiras impermeáveis, antes são constantemente trabalhadas, moldadas, recompostas por incessantes processos de empréstimos e de trocas. Porém, cada uma delas possui uma certa configuração própria que permite identifica-la e distingui-la das suas vizinhas.
O antropólogo Edward Tylor dizia que:
‘’Culture is that complex whole wich includs knowledge, belief, morals, law, custom, and any other capabilities and habits acquiredby a man as member of society’’
Toda a cultura vive e prospera porque está em contacto com as outras. Estes múltiplos laços são necessários ao seu enriquecimento pois, de outro modo, retraída sobre sí mesma, ela ameaçaria.
Como sublinha Raul Altuna,
‘’as culturas devem tornar-se cada vez mais humanas, múltiplas através dos tempos, criativas, dinâmicas, e devem acompanhar as vicissitudes dos grupos sociais, que não devem permanecer imóveis’’.
A função da cultura altera a sua direção: enquanto nas sociedades pré-modernas ela permitia marcar as diferenças de estatuto, passa doravante a sublinhar a proximidade entre os membros de um mesmo conjunto social e serve para consolidar uma nova forma de comunidade, a nação. A cultura desloca o eixo da diferenciação. Enquanto na sociedade tradicional ela reitera a demarcação social rígida entre estrato dirigente e massas camponesas segundo uma estratificação horizontal, estabelece doravante, entre as sociedades modernas, linhas de separação nacional segundo cortes verticais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
§  DIECKHFF, Alain (2001) ‘’A Nação em todos os seus Estados – As identidades Nacionais em Movimento’’, Stória Editores, Lda, Lisboa.
§  HUNTINGTON, Samuel (2001) ‘’O CHOQUE DAS CIVILIZAÇÕES – e a Mudança na Ordem Mundial, 2ªEdição, Gravida, Lisboa.
§  NETO, Teresa da Silva (2010) ‘’História da Educação e Cultura de Angola: Grupos Nativos, Colonização e a Independência’’, Editora Alpiarça, Brasil.
§  PE.ALTUNA, Raul Ruiz de Asúa (2006) ‘’Cultura Tradicional Bantu’’, Editora Paulinas, Luanda.
§  KROEBER, A.L., (1952) ’’A Natureza da Cultura’’, Edições 70, Lisboa.
§  WARNIER, Jean-Pierre (2002) ‘’A mundialização da cultura’’, 2ªEdição, Editorial Notícias, Lisboa.
Leia também:
§  Roque de Barros Laraia – ‘’CULTURA: UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO’’.
§  O que é Cultura - Liene Alves Santos