RESUMO
A colonização está associada à ocupação de uma terra
estrangeira,ao seu cultivo, à instalação de colonos. A África dispõe de uma
longa história anterior à invasão ocidental. Reinos poderosos e imensos
impérios surgiram em vários pontos do continente, configurando estruturas
sociais, políticas e económicas em nada devedoras em termos de progresso e de
produção de saber, aos centros europeus do mesmo período. Este seria por
exemplo, o caso do império do Mali (Séculos XIII/XVI), um dos mais fabulosos
reinos jamais constituídos na história da humanidade. Sabe-se também, nos dias
de hoje, que civilizações como a Egípcia foram largamente subsidiadas por
fortes influências culturais com origem no vasto interior do continente, pelo
que algumas publicações definem o Egipto como uma civilização negra.
Quando um determinado território é reduzido à colónia,
significa dizer que a mesma não tem liberdade nem soberania, pois esta pertence
integralmente à metrópole; uma colónia não tem sequer personalidade
reconhecida.
Como sublinha René Rémond,
‘’no regime
colonial, as populações autóctones estão sujeitas a um regime jurídico
diferente do dos cidadãos da metrópole, porém, mesmo que a colonização tenha
como consequência melhorar as condições materiais, elevar o nível de vida,
corrigir um certo numero de injustiças, por exemplo, suprimir a escravatura,
mantém uma desigualdade de direito entre os indivíduos, aplica duas leis, dois
direitos.
TIPOS DE COLONIZAÇÃO
A dominação dos colonizadores e as suas consequências
deram origem a muitas situações típicas; algumas das suas características
conseguiram sobressair parcialmente à própria descolonização. Assim, podemos
distinguir em primeiro lugar,
§ a colonização de tipo antigo, de tipo expansionista, num estádio de livre
concorrência do desenvolvimento do capitalismo. O caso da Argélia, conquistada
em 1830, representa um dos seus últimos exemplos;
§ a colonização de novo tipo, ligada à Revolução Industrial (que segundo Jean-Pierre Rioux, é a certidão de nascimento do nosso
mundo de hoje) e ao capitalismo financeiro, que diz respeito à maior parte
das conquistas francesas posteriores a 1871, em especial Marrocos, se bem que
elas estejam relacionadas com outras
considerações; tal como está a política de expansão da Grã-Bretanha e da
Alemanha na África Oriental e na África do Sul, etc.;
§ o imperialismo sem colonização, por
exemplo o Império Otomano – a título provisório, como atesta o caso do Egito em
1881. Desenvolveu-se uma forma mais pura, isto é, sem a ideia de instalar
colonos – na América Latina, onde a City reinou,
tanto na Argentina como no Perú, até ceder o lugar aos Estados Unidos. Este
imperialismo sem bandeira sobreviveu aos movimentos de independência da segunda
metade do século XX.
O séc.XV, os portugueses tinham marcado o início da
expansão europeia e de um comércio à escala global. Contudo, a maior parte das
estruturas políticas tradicionais – organizadas ou não na forma de aparatos de
Estado – manteve-se incólume ao longo dos séculos XVI/XIX. Foi apenas com a
aceleração da chamada Corrida Colonial que a Europa partiu para a conquista da
totalidade do continente.
Em termos históricos, os últimos 40 ou 50 anos são um
período de grandes lutas e vitórias para os africanos, de enormes progressos na
emancipação dos povos do continente. Depois da Segunda Guerra Mundial, durante a qual
africanos lutaram nas fileiras dos exércitos aliados contra o nazismo, os povos
colonizados foram conquistando a independência, em processos políticos
diferenciados, alguns através de lutas armadas de libertação nacional, como os
da Argélia, da Guiné-Bissau, de Angola ou de Moçambique, existindo hoje meia
centena de estados africanos independentes.
Segundo Amílcar Cabral,
‘’o exame da
história dos povos africanos demonstra que estes nunca deixaram de lutar com
todas as suas forças contra a dominação estrangeira. A luta pela liberdade e
contra a dominação estrangeira é um factor concreto e permanente da tradição
histórica dos povos do continente africano e foi realizada sob diversas formas,
confirmando a inalienável vocação destes povos para determinarem o seu próprio
destino – livres e independentes de pressões estrangeiras. O direito à
autodeterminação e à independência traduz essa combatividade tradicional e
sempre manifesta dos povos africanos contra a dominação estrangeira’’.
Porém, a corrida para África tomou novo aspecto logo
após a Conferência de Berlim de 1884/1885; assumiu duas formas principais: competição, conflitos e desentendimentos
entre as grandes potências; multiplicação dos tratados com os chefes africanos.
Reuniram-se nesta conferência as principais potências coloniais europeias,
com interesses territoriais e não só no continente africano. As principais
potências participantes que praticamente dividiram o continente entre eles
eram: Portugal, Espanha, França, Alemanha, Inglaterra, Bélgica, Inglaterra e
Reino Unido.
Apenas quatro países de África escaparam da dominação
ocidental, e citámo-los:
§ EGIPTO – formalmente independente, mas na prática governada
indirectamente por Londres. Constituiu um protectorado britânico até 1922. A
Zona do Canal de Suez, de interesse estratégico vital para o Império Britânico,
foi mantida sob controlo comercial militar directo da Inglaterra. Nacionalizado
apenas em 1956 no governo de Gamal Abdel Nasser, mesmo assim provocou agressiva
resposta por parte do Ocidente através de acção militar conjunta da Inglaterra,
França e Israel contra o Egipto.
§ UNIÃO
SUL-AFRICANA (África do Sul) – embora independente, era dominada
pela minoria branca, particularmente pelos bôeres, descendentes de colonos
holandeses que nunca pouparam esforços em manter a população negra sob as mais
abjectas práticas de discriminação e exploração, mais tarde configuradas no
abominável sistema do Apartheid, que foi implantado em 1948 e só abolido em
1994.
§ LIBÉRIA – criada em 1822 por iniciativa do governo americano com
o intuito de ‘’receber de volta’’, ou seja importar os escravos
recém-libertados. O nome do país deriva de Liberty,
que significa liberdade em inglês, e o nome da capital, Monróvia, foi dado em
homenagem ao presidente Monroe, dos EUA. Sua primeira constituição foi
elaborada em Harvard e sua bandeira foi copiada da americana. Quanto à moeda
oficial, adoptou-se o dólar liberiano. Na verdade, a Libéria constituiu-se num
protectorado americano, no qual uma elite negra passou a exercer o poder em
nome dos seus antigos amos e senhores.
§ ETIÓPIA ou Abissínia, na prática a única nação africana
independente. Trata-se de um reino antiquíssimo, que a tradição local pretende
remontar a Rainha de Sabá e ao Rei Salomão. Após a Arménia, é o segundo mais
antigo Estado cristão do mundo. A Etiópia resistiu a uma primeira tentativa de
invasão italiana e assombrou o mundo ao derrotar os invasores em 1896 em Adowa.
Ocupado pela Itália fascista entre 1935 a 1941, reconquistou posteriormente sua
independência.
Os benefícios trazidos pelo colonialismo foram todos
de mérito discutível. A rede dos caminhos-de-ferro por exemplo, foi
estabelecida com a finalidade exclusiva de escoar as riquezas do interior da
África para os mercados de além-mar e não para ligar os países do continente
entre sí.
BIBLIOGRAFIA
§ CAPOCO, Zeferino (2012) ''Nacionalismo e Construção do Estado-Angola (1945-1975)'', Escolar Editora,
Lobito/Angola.
§ FERRO, Marc (1996) ''História das Colonizações'', Das Conquistas às
Independências – Sécs.XIII-XX, Editorial
Estampa, Lisboa.
§ M’BOKOLO, Elikia (2007) ''ÁFRICA NEGRA – História e Civilizações do SÉCULO
XIX aos nossos dias'', Tomo II, Edições Colibri, Lisboa.
§ SOUSA, Isabel; Olívia Soares (2001) ''Pensar
em História'', Texto Editora, Lisboa.
§ RÉMOND,
Réne (2009) ''Introdução à História do Nosso Tempo – do Antigo Regime aos Nossos Dias'',
Gravida, Lisboa.
§ WALDMAN, Maurício: Guerras de Libertação na África.