segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

PAÍSES DE ÁFRICA QUE NÃO SOFRERAM A COLONIZAÇÃO

RESUMO
A colonização está associada à ocupação de uma terra estrangeira,ao seu cultivo, à instalação de colonos. A África dispõe de uma longa história anterior à invasão ocidental. Reinos poderosos e imensos impérios surgiram em vários pontos do continente, configurando estruturas sociais, políticas e económicas em nada devedoras em termos de progresso e de produção de saber, aos centros europeus do mesmo período. Este seria por exemplo, o caso do império do Mali (Séculos XIII/XVI), um dos mais fabulosos reinos jamais constituídos na história da humanidade. Sabe-se também, nos dias de hoje, que civilizações como a Egípcia foram largamente subsidiadas por fortes influências culturais com origem no vasto interior do continente, pelo que algumas publicações definem o Egipto como uma civilização negra.
Quando um determinado território é reduzido à colónia, significa dizer que a mesma não tem liberdade nem soberania, pois esta pertence integralmente à metrópole; uma colónia não tem sequer personalidade reconhecida.
Como sublinha René Rémond,
‘’no regime colonial, as populações autóctones estão sujeitas a um regime jurídico diferente do dos cidadãos da metrópole, porém, mesmo que a colonização tenha como consequência melhorar as condições materiais, elevar o nível de vida, corrigir um certo numero de injustiças, por exemplo, suprimir a escravatura, mantém uma desigualdade de direito entre os indivíduos, aplica duas leis, dois direitos.  
TIPOS DE COLONIZAÇÃO
A dominação dos colonizadores e as suas consequências deram origem a muitas situações típicas; algumas das suas características conseguiram sobressair parcialmente à própria descolonização. Assim, podemos distinguir em primeiro lugar,
§  a colonização de tipo antigo, de tipo expansionista, num estádio de livre concorrência do desenvolvimento do capitalismo. O caso da Argélia, conquistada em 1830, representa um dos seus últimos exemplos;
§  a colonização de novo tipo, ligada à Revolução Industrial (que segundo Jean-Pierre Rioux, é a certidão de nascimento do nosso mundo de hoje) e ao capitalismo financeiro, que diz respeito à maior parte das conquistas francesas posteriores a 1871, em especial Marrocos, se bem que elas estejam  relacionadas com outras considerações; tal como está a política de expansão da Grã-Bretanha e da Alemanha na África Oriental e na África do Sul, etc.;
§  o imperialismo sem colonização, por exemplo o Império Otomano – a título provisório, como atesta o caso do Egito em 1881. Desenvolveu-se uma forma mais pura, isto é, sem a ideia de instalar colonos – na América Latina, onde a City reinou, tanto na Argentina como no Perú, até ceder o lugar aos Estados Unidos. Este imperialismo sem bandeira sobreviveu aos movimentos de independência da segunda metade do século XX.
O séc.XV, os portugueses tinham marcado o início da expansão europeia e de um comércio à escala global. Contudo, a maior parte das estruturas políticas tradicionais – organizadas ou não na forma de aparatos de Estado – manteve-se incólume ao longo dos séculos XVI/XIX. Foi apenas com a aceleração da chamada Corrida Colonial que a Europa partiu para a conquista da totalidade do continente. 
Em termos históricos, os últimos 40 ou 50 anos são um período de grandes lutas e vitórias para os africanos, de enormes progressos na emancipação dos povos do continente. Depois da Segunda Guerra Mundial, durante a qual africanos lutaram nas fileiras dos exércitos aliados contra o nazismo, os povos colonizados foram conquistando a independência, em processos políticos diferenciados, alguns através de lutas armadas de libertação nacional, como os da Argélia, da Guiné-Bissau, de Angola ou de Moçambique, existindo hoje meia centena de estados africanos independentes.
Segundo Amílcar Cabral,
‘’o exame da história dos povos africanos demonstra que estes nunca deixaram de lutar com todas as suas forças contra a dominação estrangeira. A luta pela liberdade e contra a dominação estrangeira é um factor concreto e permanente da tradição histórica dos povos do continente africano e foi realizada sob diversas formas, confirmando a inalienável vocação destes povos para determinarem o seu próprio destino – livres e independentes de pressões estrangeiras. O direito à autodeterminação e à independência traduz essa combatividade tradicional e sempre manifesta dos povos africanos contra a dominação estrangeira’’.
Porém, a corrida para África tomou novo aspecto logo após a Conferência de Berlim de 1884/1885; assumiu duas formas principais: competição, conflitos e desentendimentos entre as grandes potências; multiplicação dos tratados com os chefes africanos. Reuniram-se nesta conferência as principais potências coloniais europeias, com interesses territoriais e não só no continente africano. As principais potências participantes que praticamente dividiram o continente entre eles eram: Portugal, Espanha, França, Alemanha, Inglaterra, Bélgica, Inglaterra e Reino Unido.
Apenas quatro países de África escaparam da dominação ocidental, e citámo-los:
§  EGIPTO – formalmente independente, mas na prática governada indirectamente por Londres. Constituiu um protectorado britânico até 1922. A Zona do Canal de Suez, de interesse estratégico vital para o Império Britânico, foi mantida sob controlo comercial militar directo da Inglaterra. Nacionalizado apenas em 1956 no governo de Gamal Abdel Nasser, mesmo assim provocou agressiva resposta por parte do Ocidente através de acção militar conjunta da Inglaterra, França e Israel contra o Egipto.   
§  UNIÃO SUL-AFRICANA (África do Sul) – embora independente, era dominada pela minoria branca, particularmente pelos bôeres, descendentes de colonos holandeses que nunca pouparam esforços em manter a população negra sob as mais abjectas práticas de discriminação e exploração, mais tarde configuradas no abominável sistema do Apartheid, que foi implantado em 1948 e só abolido em 1994.
§  LIBÉRIA – criada em 1822 por iniciativa do governo americano com o intuito de ‘’receber de volta’’, ou seja importar os escravos recém-libertados. O nome do país deriva de Liberty, que significa liberdade em inglês, e o nome da capital, Monróvia, foi dado em homenagem ao presidente Monroe, dos EUA. Sua primeira constituição foi elaborada em Harvard e sua bandeira foi copiada da americana. Quanto à moeda oficial, adoptou-se o dólar liberiano. Na verdade, a Libéria constituiu-se num protectorado americano, no qual uma elite negra passou a exercer o poder em nome dos seus antigos amos e senhores. 
§  ETIÓPIA ou Abissínia, na prática a única nação africana independente. Trata-se de um reino antiquíssimo, que a tradição local pretende remontar a Rainha de Sabá e ao Rei Salomão. Após a Arménia, é o segundo mais antigo Estado cristão do mundo. A Etiópia resistiu a uma primeira tentativa de invasão italiana e assombrou o mundo ao derrotar os invasores em 1896 em Adowa. Ocupado pela Itália fascista entre 1935 a 1941, reconquistou posteriormente sua independência. 
Os benefícios trazidos pelo colonialismo foram todos de mérito discutível. A rede dos caminhos-de-ferro por exemplo, foi estabelecida com a finalidade exclusiva de escoar as riquezas do interior da África para os mercados de além-mar e não para ligar os países do continente entre sí.
BIBLIOGRAFIA
§  CAPOCO, Zeferino (2012) ''Nacionalismo e Construção do Estado-Angola (1945-1975)'', Escolar Editora, Lobito/Angola.
§  FERRO, Marc (1996) ''História das Colonizações'', Das Conquistas às Independências – Sécs.XIII-XX, Editorial Estampa, Lisboa.
§  M’BOKOLO, Elikia (2007) ''ÁFRICA NEGRAHistória e Civilizações do SÉCULO XIX aos nossos dias'', Tomo II, Edições Colibri, Lisboa.
§  SOUSA, Isabel; Olívia Soares (2001) ''Pensar em História'', Texto Editora, Lisboa.
§  RÉMOND, Réne (2009) ''Introdução à História do Nosso Tempo – do Antigo Regime aos Nossos Dias'', Gravida, Lisboa.
§  WALDMAN, Maurício: Guerras de Libertação na África.